Remédio tinha aval para diabetes tipo 2, mas já era usado de forma off-label no país para obesidade
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou a indicação do Mounjaro, da Eli Lilly, para o tratamento da obesidade no Brasil. O medicamento tinha aval para pacientes com diabetes tipo 2, mas já era utilizado de forma off-label (finalidade diferente da bula) para a perda de peso no país.
A Anvisa publicou a aprovação da nova indicação no Diário Oficial da União (DOU) desta segunda-feira. A tirzepatida, princípio ativo do Mounjaro, já tinha recebido o sinal verde também para obesidade em outros países, como Estados Unidos e na União Europeia.

Em nota, Luiz Magno, diretor sênior da área médica da Lilly do Brasil, celebrou a decisão da agência e lembrou que a obesidade tem mais de 200 complicações associadas e taxas crescentes no mundo. Além disso, pontuou que o quadro ainda é visto como uma escolha de estilo de vida, “apesar das evidências científicas contrárias”.
“Durante décadas, dieta e exercício foram as únicas opções de tratamento, mas nem todos os pacientes conseguem perder peso apenas com essa abordagem”, continuou Magno, afirmando que a aprovação do Mounjaro representa uma nova opção que traz “mais oportunidades” para pacientes que estão “à procura de melhores alternativas para controle de peso”.
Para essa finalidade, o Mounjaro foi aprovado pela Anvisa para pessoas com índice de massa corporal (IMC) de 30 kg/m² ou mais ou entre 27 e 30 kg/m² (sobrepeso), mas com problemas de saúde relacionados ao peso, como pressão alta ou pré-diabetes.
O remédio, que começou a ser comercializado no Brasil em maio, é disponibilizado na forma de uma caneta autoinjetora de dose única semanal. Cada caixa contém quatro unidades, equivalentes a um mês de tratamento. Geralmente, o paciente inicia com dosagens mais baixas, que vão aumentando conforme orientação médica.
Segundo a Eli Lilly, por enquanto estão disponíveis no mercado nacional apenas as concentrações de 2,5 mg e 5 mg – o remédio também existe nas formulações de 7,5 mg; 10 mg; 12,5 mg e 15 mg. Dentro do Programa Lilly Melhor Para Você, o preço máximo é de R$ 1.406,75 (2,5 mg) e R$ 1.759,64 (5 mg) online e de R$ 1.506,76 (2,5 mg) e R$ 1.859,65 (5 mg) nas lojas físicas.
Nas farmácias, o Mounjaro tem os valores máximos de R$ 1.907,29 (2,5 mg) e R$ 2.384,34 (5 mg), considerando uma alíquota média de 18% de ICMS, que varia a depender do estado.
Com o aval, o remédio se torna oficialmente mais uma opção dos chamados análogos de GLP-1 disponível no Brasil para tratar a obesidade. A classe de medicamentos é considerada inovadora devido à alta eficácia para perda de peso.
Também fazem parte da classe o Wegovy e o Saxenda, ambos da farmacêutica Novo Nordisk. O Wegovy tem como princípio ativo a semaglutida, o mesmo do Ozempic, indicado para diabetes. Já o Saxenda é feito à base de liraglutida.
Enquanto fármacos antigos proporcionavam uma perda de 6% a 8% do peso, os estudos com a semaglutida mostraram uma redução de 17,4%, após 68 semanas. Já a tirzepatida levou a uma diminuição de 25,3% do peso após 88 semanas. Ambos os trabalhos foram publicados na revista científica JAMA.
Os medicamentos são chamados de análogos de GLP-1 pois simulam um hormônio de mesmo nome no corpo. Há receptores dele em diferentes locais: no pâncreas, por exemplo, essa interação aumenta a produção de insulina, motivo pelo qual os remédios são usados para diabetes.
Já no estômago, o GLP-1 reduz a velocidade da digestão da comida e, no cérebro, ativa a sensação de saciedade. Com isso, a pessoa sente menos fome e, consequentemente, reduz as calorias ingeridas por dia e perde peso.
A semaglutida simula apenas o GLP-1, porém a tirzepatida é uma nova geração que tem o diferencial de ser um duplo agonista, simulando também um outro hormônio intestinal chamado GIP, o que se acredita ser o motivo para a maior eficácia.
Em um estudo financiado pela Eli Lilly com 751 participantes, publicado no periódico The New England Journal of Medicine, a metade tratada com tirzepatida alcançou uma redução média de peso de 20,2%, enquanto os outros, que receberam a semaglutida, tiveram uma diminuição de 13,7%. Dessa forma, o Mounjaro proporcionou uma perda 47% maior do peso do que o Wegovy e o Ozempic.
Por O Globo — Rio de Janeiro